domingo, 16 de dezembro de 2012

Memorial da formação leitora

Memorial: Formação leitora
Por Robélia de Oliveira Santos

Minhas recordações de infância trazem a imagem do primeiro dia de aula. Fiquei muito ansiosa pensando como seria minha vida a partir daquele momento tão esperado. Não passei pela educação infantil, pois a minha idade não permitia e também em comunidades rurais não existia. As crianças tinham o primeiro contato com a leitura com seus familiares. A escola era muito distante de minha casa. Não era bem uma escola, mas uma casa normal, simples. Não tinha banheiro. Sentávamos em bancos de madeira e muitas vezes não tinha lugar para todos.

A educação na zona rural
           
Eu já tinha mais ou menos uns dez anos de idade quando comecei a frequentar a escola, pois morava na zona rural e tudo lá era muito difícil. A professora não tinha uma formação, ou seja, não tinha o curso do magistério, mas mesmo assim aprendi a fazer meu nome, ler as lições naquelas enormes cartilhas. Era uma grande satisfação dar a lição no final da aula. Os livros como de contos, fábulas e outros gêneros não existiam. Lia alguns contos nos próprios livros didáticos, às vezes um mesmo conto era lido várias vezes.
             Em função da precariedade mudei de escola, após dois anos, indo cursar a 2ª série em outra escola. Durante os primeiros meses as atividades eram difíceis, pois ainda não sabia ler com autonomia, mas no decorrer do ano fui melhorando, a vontade de aprender a ler era muito grande. Quando ouvia minha avó ler os romances (cordel), ficava horas pensando: “será que um dia vou aprender a ler como minha avó?” Ainda me recordo de alguns cordéis como: Zezinho e Mariquinha, Pavão misterioso e coco verde e melancia.
            Naquela época por morar na zona rural e fazer parte de uma família de poucos leitores, ouvia poucas leituras feitas apenas pela minha avó e os únicos livros que tinha contato eram as cartilhas, literatura de cordel e os livros didáticos, que naquela época eram comprados.
            A leitura era a minha única diversão, e que muitas vezes ao ouvir, me sentia feliz e sonhava em um dia poder ler para outras pessoas. Havia momentos que ficava lendo o rótulo das embalagens, e até hoje ainda não esqueci, do óleo salada, cajuada e etc.
            Ainda na zona rural, conclui a 4º série na Escola Municipal Antônio Carlos Magalhães. Lembro-me de que foi a primeira escola de verdade que frequentei. Tinha uma boa estrutura: duas salas de aulas, cantina e banheiro. Foi nesta escola que encontrei a primeira professora com formação em magistério, a partir daí as coisas foram melhorando, eu lia, escrevia, entre outros. O meu maior contato com a leitura era com os livros didáticos: Língua portuguesa - Brincando com as palavras; Matemática - Brincando com os números e Ainda Brincando, um livro integrado com as outras disciplinas.

De volta à escola

            Como na zona rural naquela época só era permitido estudar até a 4º série, acabei interrompendo meus estudos, retomando alguns anos depois, já maior de idade, casada e com filhos. Já morando na cidade, matriculei-me no noturno, fazia duas séries em um ano. Foi nesta etapa de minha que tive mais contato com a leitura, pois precisava me adaptar às obrigações familiares e escolares. Tive a oportunidade de ler vários livros, um dos que me lembro de ter lido nesse período foi ‘O rei Arthur e os Cavaleiros da Távola Redonda’.

Formação acadêmica

Por incentivo de alguns professores entrei no magistério (curso normal) com duração de quatro anos. Durante o ensino médio fiz a leitura de alguns romances, como A Moreninha, Vidas secas, Dom Casmurro entre outros.
Após cursar o magistério comecei a exercer a profissão de professora, mas não parei por aí, dei continuidade a minha profissão, pois atualmente é preciso que os professores tenham nível superior, então resolvi encarar realidade e me inscrevi no vestibular e posteriormente me matriculei na faculdade. Durante o período da faculdade leituras passaram a ser indispensáveis para um bom desempenho profissional, pois o curso de pedagogia requer constante atualização.
A formação acadêmica está contribuindo e muito para repensá-lo na prática pedagógica. Após ter vivenciado algumas leituras, hoje vejo que os conceitos não podem e nem devem ser trabalhados de forma estática (dissociados do contexto). Esses devem sempre levar à reflexão e formação, e, a pesquisa é uma das ferramentas para propiciar essa formação.
Com a vivência acadêmica, surge uma maneira diferente de ver o ler e escrever. Proporcionou-me o contato com a pesquisa e com todo aparelho teórico, percebi a intrincada rede de relações que envolvem um acontecimento discursivo e justificando a unidade e a integração das teorias numa reflexão sobre o funcionamento da linguagem em geral.
Na formação acadêmica, o contato com teóricos consagrados tanto da literatura quanto da linguística consolidou e enriqueceu o meu repertório. Agora me dou conta do quanto é importante à leitura em nossas vidas, os conhecimentos que podemos adquirir e entre tantas outras coisas boas que ela pode nos proporcionar. Percebi que através dela posso e vou me tornar um bom profissional, com poder de argumentação para enfrentar os obstáculos do dia a dia em minha carreira. Desse modo, me dou conta do quanto é importante ser um leitor, percebendo os valores e vantagens que a leitura atribui em minha vida.

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